Eu já estava quase apodrecendo naquele lugar quente
quando, de repente, um passarinho parou bem perto de mim,
deu-me uma olhada, pegou-me no seu bico e voou para bem longe!
Desceu num lugar bonito e fresquinho, derrubou-me ali naquele capim
e não mais me encontrou. E foi embora.
Ali fiquei, dali gostei! Comecei a crescer, até que um dia alguém me viu e, com carinho, começou a cuidar de mim.
Eu continuava crescendo, aquele senhor me molhava quando eu tinha sede.
Cresci mais, mais e mais!
Uma enorme árvore me tornei. Quantas pessoas paravam ali na minha sombra, cansados.
Eu servia de abrigo do sol.
Passarinhos faziam seus ninhos em minha copa tão bonita!
O vento forte batia em mim e meus galhos não se quebravam.
Mas um dia, aquele homem que cuidava de mim não mais apareceu!
Por eu já estar grande? Sei lá! Mas nunca mais o vi por ali.
Até que um dia, fui despertado com uma batida, e percebi que era ali, no meu tronco.
A batida de um machado, sem piedade. Me batia cortando meus galhos,
separando-me das folhas. Até que um barulho forte, com certeza foi ouvido à distância.
O meu tombo, o meu fim. Fui deixado ali por um bom tempo. O sol me queimava, e eu fui secando. Meus galhos mais leves foram levados, apenas uma parte do meu tronco foi deixada ali no chão.
Alguém chega e tira mais um pedaço, foi diminuindo ainda mais. Até que fui levado também.
Mas para onde estariam me levando?
Sou, agora, apenas um pedaço de madeira, uma folha verde. E o que me resta?
Eu tinha esperança de ser abandonado num lugar de terra macia, e novamente florescer. Mas como eu podia imaginar o que eu seria, e para que eu serviria?
Nas mãos desta pessoa que me levava com carinho, eu logo notei, tomando cuidado comigo para não me quebrar.
Chegamos. O homem cansado me coloca no chão devagarzinho para se sentar um pouco. Toma uma água, acende um cigarro e pronto, pensei logo: é o meu fim!
O fogo, é isso! Ele vai me transformar em carvão! Será?
Não! Pega-me de novo com muito cuidado, vai até um canto, com muitas flores verdinhas que fiquei até com inveja. Apanha outra plantinha, tomando cuidado, coloca-a sobre mim, arruma com carinho e nos pendura no alto. Deixa-nos ali.
Dia sim, dia não, ele aparecia, jogava um pouco de água em mim, e assim fui ficando ali
No meio daquelas flores que me cobriam. Aí então percebi que fui transformado num suporte bonito, e saudável orquidário, com suas flores me cobrindo de perfumes e beleza. Não perdi a esperança. Hoje ainda resta uma pequena lembrança daquela árvore tão frondosa, que no passado serviu.
Hoje triste, acabado, mas conformado, servindo de suporte, mesmo depois da morte a um lindo orquidário!
Sou apenas um velho tronco apodrecendo, não esquecido, mas me levam nas exposições. Sou agora um suporte florido, florido!