Leondenis Vendramim

Perdão, feitio do bom caráter 2

O Novo Testamento, na língua grega, emprega dois termos para expressar a ideia de perdão: “aphiemi”, que é deixar passar, não levar a contenda à frente, e “apoluo”, que significa desobrigar da pena, libertar, abrogar uma dívida.

Etimologicamente, a palavra “perdão” vem do latim “perdonare” traduzida como perdoar, aceitar o pedido de desculpas; e ou pedir desculpas, utilizado para se redimir quando reconhece ter feito algo errado.

Diz o mito sobre as Erínias, três deusas com asas de morcego, vestidas de negro, escorrendo sangue dos olhos, cujos cabelos eram víboras, portavam chicotes, sempre acompanhadas por animais ferozes. Viviam no tártaro (subterrâneo) e saiam daí ao ouvir o clamor da vítima, para atormentar e enlouquecer os delituosos.

Eram três as erínias: Megera, a rancorosa, castigava os infiéis no matrimônio, gritando ininterruptamente aos ouvidos do transgressor o seu pecado. Alecto, afligia os humanos soberbos, coléricos, ameaçando-os com fogo dia e noite.

Tisífone que castigava os parricidas, fratricidas e homicidas, açoitando-os e enlouquecendo-os. (Hoje precisa-se de uma Tisífone moderna, que vingue dos genocidas). Essas deusas não se deixavam abrandar por sacrifícios nem ouviam os apelos dos deuses.

Não levavam em conta atenuantes e castigavam aos culpados de perjúrio, violação dos rituais religiosos, mas sobretudo, de assassinatos e outros crimes. Os gregos sacrificavam-lhes carneiros negros e ofereciam um composto de óleo, vinho, mel e leite, no ritual dos seus templos.

Por outro lado, eles tinham três deusas (Kárites = Graças) filhas de Zeus com Eurônome: Eufrosine, Aglaia e Thalia, as deusas da beleza, perdão, alegria, banquete, fertilidade, música. Viviam juntas. Segundo Pausânias, as graças não eram oponentes das Erínias e seus templos ficavam próximos.

Os romanos tinham Clementia, a deusa do perdão, segurando um ramo de louro, ou de oliveira, símbolo da vitória, suavidade e paz. A palavra latina significa dócil, suave, clemente, bondade, perdoadora.

Alguém definiu o perdão como ação que nos livra de todo o ressentimento de raiva, de alguém que nos machucou, física ou moralmente. Perdoar é esquecer. Raiva causa vasodilatação, maior disposição de sangue na cabeça, arritmia, hipertensão, diabetes, envelhecimento, risco de enfarte e outros transtornos.

Tentar suprimir a raiva também pode trazer problemas: depressão, ansiedade e dores musculares. Portanto, aquele que perdoa obtêm maiores benefícios e se liberta da carga emocional que só obstrui o fígado e envenena o sangue. Perdoar é a virtude que embeleza o caráter.

O conselho divino é: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe pão para comer, se tiver sede, dá-lhe água para beber. Assim fazendo amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça, e o Senhor te recompensará.” (Prov. 25:21-22)
Pela oração do “Pai Nosso” Jesus ensina: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores.” (Mat. 6:12) “Se não perdoardes aos homens… vosso Pai Celestial não vos perdoará a vós. (Mat. 6: 15).

Como pode alguém proferir esta oração modelo se não perdoar aqueles que lhe ofendem? Estará pedindo sua própria condenação! Pense antes de orar. Como pode um marido e esposa ficar tanto tempo sem conversar?

Conheci um pai que não conversava com sua filha há 14 anos porque ela engravidou quando ainda era solteira. Dois irmãos não se davam há 42 anos, porque se julgavam fraudados, um pelo outro, numa área herdada.

Quantas vezes já pecamos? Todos pecamos. (Rom. 3: 10-18, 23) Quantas vezes fomos perdoados? Será impossível perdoar? S. Pedro perguntou: “Quantas vezes devo perdoar meu irmão, sete?” Pedro pensava ser muito e sete era o emblema da perfeição. Então o Mestre respondeu: “sete não, mas setenta vezes sete”, ou seja, 490 vezes. (Mat. 18:21) Jesus aconselha, se houver contenda, deve se reconciliar antes de dar oferta, e orar. (Ver Mat. 5:24)

Parece um despautério o seu ensino: Se teu irmão pecar contra ti, vai tu e fala com ele… (Mat. 18:15). Quando o comum é: “ele que errou, ele que venha falar comigo”, O correto é: “vai tu e fala com ele” pois quem peca está em situação inferior, e talvez, nem sinta condição moral para se humilhar. O ofendido tem melhor disposição para a reconciliação.

Quando o fariseu Simão, no seu íntimo, recriminava a Cristo porque estava aceitando a homenagem da adúltera, Maria de Magdala, disse-lhe o Messias: “Tenho uma coisa a lhe dizer: Certo credor tinha dois devedores, um lhe devia quinhentos denários (moeda equivalente ao salário diário), o outro devia cinquenta.

O credor perdoou a ambos, pois não tinham como pagar”. Então Jesus perguntou a Simão: “qual devedor foi mais amado”? A resposta óbvia: “o que foi mais perdoado”. Creio que somos mais perdoados por Deus do que aquele a quem perdoamos. Alegremo-nos em perdoar, pois o Senhor nos ama mais do que nós amamos ao próximo.

Jornal O Semanário

Esta notícia foi publicada por um dos redatores do jornal O Semanário, não significa que foi escrita por um deles, em alguns dos casos, foi apenas editada.

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