ColunistasLeondenis Vendramim

500 anos da Reforma Protestante – 13

Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História

Como está claro, a Igreja Católica estava vivendo dias difíceis, fragmentada pelo cisma com a Igreja Ortodoxa, acusada pelos desmandos, abusos, imoralidade, pela paganização doutrinária, vencida no “braço de ferro” por Henrique VIII, surgindo a Igreja Anglicana, as lutas internas originando dois e às vezes três papas simultâneos que se anatematizavam mutuamente fragilizando ainda mais as já débeis lideranças. Os reformadores como Lutero, cujo interesse era reformar e revitalizar a igreja e não criar instituição oponente apelaram e insistiram num concílio geral com esse objetivo. Havia relutância da parte dos cardeais, mas devido aos apelos dos políticos (os reis Carlos V e Francisco) e dos reformadores, reuniu-se o Concílio de Trento (1545-1563) intermitentemente. O papa não presidiu e nem compareceu às assembleias. A princípio foi liderado pelos dominicanos, mas superados pelos jesuítas (Jaio, Bobadilha, Pedro Fabro, Salmeron e Lainez). As decisões frustraram os protestantes, estabeleceram as doutrinas católicas, fortaleceram a autoridade do papa reafirmaram os dogmas tão criticados pelos opositores, e contrariando ainda mais, instituíram a justificação pelas obras do pecador (como peregrinação, compras de relíquias), firmaram a crença no purgatório na veneração dos santos e sua intercessão, criaram o index dos livros proibidos e a inquisição como ferramenta contra reforma.
Esse concílio de Trento, o mais importante da história da Igreja, quase não teve participação dos reformadores e as decisões foram contrárias às suas crenças. O Papa Pio 4 publicou a “Injunctum Nobis” (crença segundo o Concílio) decidindo que a única versão bíblica aceita seria a Vulgata Latina com a chancela papal e somente o alto clero teria a autoridade para interpretá-la, praticamente proibia sua publicação, posse e leitura pelos leigos. Publicou a lista de livros proibidos – como se fossem “cânceres malignos”, da qual não escaparam autores reformadores, nem mesmo católicos, entre os quais: Luiz de Camões, Erasmo de Roterdã, Decameron, Bocáccio, Gil Vicente, Maquiavel, Rabelais, Staupitz, Espinosa, Shakespeare, Cervantes, Corneille, Molieère, Racine, Van Dyck, Padre Antônio Vieira e muitos outros (Veja-se Hist. de Portugal, José H. Saraiva, ps. 211-219). Diz ainda o Historiador que o século 17 foi de muita produção, literária, filosófica e científica, contudo foi uma cultura apagada pela Inquisição e pelo Index de livros proibidos. Os livros tinham um aspecto herético, passavam pela censura do episcopado, da inquisição e do governo. Da classe de literatas, mais de trinta mil portugueses foram dizimados pela inquisição.
No Brasil, antes da vinda da família Real (1808) alguns estrangeiros que traziam livros da Europa tinham de traduzi-los e ou explica-los e muitos proibidos por ignorância dos inquisidores. Quando Pombal assumiu como ministro, expulsou os jesuítas dos territórios de Portugal e os livros de suas bibliotecas leiloados não tiveram compradores, por isso eram usados como papeis de embrulhos nos armazéns (ver Hist. da Imprensa do Brasil, ps. 11 a 14). José de Alcântara Machado, escritor de “Vida e Morte do Bandeirante” não citou um só livro entre seus pertences por medo da Inquisição. Homens de cultura como Muniz Barreto, Pe. Agostinho Gomes, Cipriano Barata, Marquês de Maricá foram acusados de lerem livros franceses que versavam sobre a independência e república. A Inquisição foi causa do retardo do surgimento da universidade no Brasil e de imperar sobre a ignorância por aqui; os brasileiros procuravam avidamente pelas notícias nos navios chegados de Portugal, diz Sodré.
Antônio Isidoro da Fonseca instalou uma tipografia e imprimiu algumas obras, mas publicava como se o fossem em Paris, Lisboa, ou em Madri, a fim de enganar o governo, mas por denúncia, D. João V decretou seu fechamento em 1747. Em Astorga, Paraná, em 1950 um padre jesuíta paroquiano mandou incinerar centenas de Bíblias e livros em praça pública (Do Im. à Sta. Inq. p. 134). Os jesuítas solaparam o desenvolvimento cultural de Portugal e do Brasil “não convinha a eles que houvesse civilização no Brasil, nem que o povo lesse e aprendesse por si e a ser crítico, suas escolas tinham finalidade única de catolicizar por meio de seus catecismos” (Hist. da Imprensa no Brasil, p. 21).

ARTIGO escrito por Leondenis Vendramim é professor de Filosofia, Ética e História
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Jornal O Semanário

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