16/09/2016
A função perigo no futebol
ARTIGO | Em muitos clubes brasileiros a maior estrela, e o maior salário é o treinador. Eles não entram em campo, não fazem gol, não defendem, mas tem assumido cada vez mais o protagonismo. E por conta desses, e de outros fatores, são os elementos mais cobrados dentro do ambiente.
Mas será que quem cobra tem base para avaliar um trabalho? Um dirigente que demite um treinador sabe quais são as metodologias de treino utilizadas e porque os comportamentos treinados não estão surtindo os efeitos esperados dentro de campo?
Os treinadores brasileiros estão atrasados com relação aos melhores do mundo. Isso é fato. Não é obra do acaso nenhum profissional nosso ser ao menos cotado para dirigir os maiores clubes do planeta. A capacitação por aqui ainda engatinha. Só agora a CBF tem um curso de formação.
Mas a evolução dos técnicos tem que vir acompanhada de uma evolução da nossa cultura futebolística. Como pode Falcão durar apenas cinco jogos no Internacional?! Quem o contratou sabia o que ele poderia oferecer, e mudou de ideia apenas após cinco partidas? Ou como criticar Cristovão Borges no Corinthians com o desmanche que foi feito no elenco?
Técnico precisa de tempo para trabalhar. Resultados consistentes são obtidos através da avaliação da situação atual, conhecimento das características dos jogadores do elenco, definição de onde se quer chegar (títulos, vagas em competições, evitar rebaixamento), e aí, finalmente, vem o trabalho árduo de definir como chegar a isso, através da implementação de um modelo de jogo de acordo com a história e cultura do clube.
Tudo isso não se faz da noite para o dia. É um trabalho onde cada treino conta. Cada acerto e cada erro fazem parte de um processo, que é cheio de eventos. Interromper isso no meio inibe a ousadia do treinador. É mais fácil ser pragmático, fazer o famigerado jogo em busca do resultado, do que ousar. Vemos vários técnicos de ideias interessantes fazerem o simples, o básico. Cobro a atualização profissional do técnico, mas fundamentalmente cobro a capacitação dos dirigentes. E até o entendimento do torcedor que vaia e aplaude na arquibancada faz parte desse contexto caótico. Para colhermos frutos diferentes, temos que mudar a raiz.