Madrugada chuvosa do dia 20 de fevereiro de 1970, a Usina Rafard toca insistentemente a sirene avisando os moradores das casas da parte mais baixa da cidade, para deixarem suas casas, pois as águas do rio Capivari estavam subindo rapidamente, pois a chuva não para de cair.
O bombeiro Zé Luís Braggion, ao toque da sirene saiu correndo de sua casa e desceu para ajudar as famílias que estavam em dificuldades, mas acabou voltando com dois pontos no pé, resultado de um profundo corte provocado por caco de vidro e nem mesmo pode ficar no mutirão que se formou para ajudar os moradores já desesperados.
Numa demonstração de solidariedade e desprendimento, funcionários da usina, empresários, comerciantes locais e anônimos, deixaram suas ocupações e ajudavam coletando doações de roupas, alimentos, colchões, entre outros itens para os desabrigados.
Armandinho Garcia até hoje se recorda que nessa época em que trabalhava como ajudante de maquinista em São Paulo, veio naqueles dias visitar os pais, ficando impedido de voltar ao trabalho na data prevista, pois não havia acesso nem pela ponte da avenida Pio XII e nem acesso por outros lugares para São Paulo, e até o trem não estava circulando.
Para se ter uma ideia do tamanho da tragédia, muitos moradores da rua Pracinha Fábio tiveram que desocupar suas casas, visto que as águas invadiram suas residências, como foi o caso do pedreiro Bráulio, cuja casa ainda estava em construção, pois as águas chegaram até o começo da rua Tuiuti.
Equipes da prefeitura e da Usina e muitos populares se uniram para ajudar na retirada dos móveis e utensílios dos moradores, levando para os alojamentos provisórios, que foram improvisados nas escolas, no Círculo dos Operários e no ASAS.
O campo ficou inteiramente tomado pelas águas e mais parecia um piscinão, e até a linha da Estrada de Ferro da Sorocabana ficou encoberta pelas águas que teimavam em subir.
Por precaução, no bairro Bate Pau, logo pela manhã os moradores do “correr de cima” foram retirados em regime de mutirão, pois a enchente havia chegado nas casas de Aurélio Sotto e Antonieta e de Osório Cardoso e Romilda, que já haviam deixado suas casas. Orlando Groppo, Zé Scrivano e Nilo e tantos outros foram ajudados por pessoas voluntariosas e humanitárias, que tiraram suas mobílias a fim de poder salvar alguma coisa.
Moradores da Fazenda Saltinho, ao olhar para os lados da Fazenda Santa Rita, via um mar de água cobrindo as casas que foram totalmente destruídas, tendo seus moradores que se mudar para os três Saltinhos, o de baixo, o de cima, e o do meio, ajudados pelas famílias que estão livres.
Os relatos daqueles que acolheram os seus amigos que eram da Santa Rita, é que perderam tudo, tais como móveis, roupas, documentos e outros objetos, e até mesmo animais grandes, como cavalo, se podia ver sendo levado pelas águas rio abaixo. A usina de força, que fica na margem mais elevada do rio foi levada com todo equipamento pela enchente.
O casal de noivos, Gentil Lucas e Teresinha que estavam com casamento marcado, perderam todos os móveis que haviam comprado, e a festa já programada, teve que ser remarcada, surpreendidos que foram pela enchente de 70, que é conhecida como a maior vista em Rafard.
A foto mostra as águas do Capivari, que já havia baixado, e os moradores um pouco aliviados, vão observar o rio e os estragos causados, e segundo relatam alguns, Cuco Braggion que por brincadeira deu uma “tarrafada” no asfalto em cima da ponte da avenida Pio XII, levou para casa um belo de um corimba. Se é verdade não sabemos…