Interesse é tudo aquilo que é importante para alguém. Alguma coisa é de meu interesse se aquilo me é útil (por exemplo, uma faca é útil para cortar pão ou cenouras). Também é de meu interesse algo que me traz prazer (ver um filme divertido, fazer parte de uma peça de teatro que foi aplaudida) ou algo que me traz sentimentos de paz (ajudar uma pessoa doente ou com sede). Também pode ser do interesse de alguém algo que lhe traz vantagens, ou seja, algo que vai beneficiá-lo, mas não necessariamente beneficiará outras pessoas. Esse último tipo de interesse pode ser problemático, porque ele geralmente cria desigualdades entre as pessoas. Veremos mais sobre esse tipo específico de interesse quando estudarmos a ideia de poder. O que nos interessa agora é que um interesse é tudo aquilo que é importante para nós. Portanto, é tudo o que tem um significado especial.
Já os bens escassos são todas aquelas coisas materiais que não existem para todo mundo. Escassez quer dizer que “há pouco”. Por exemplo, quando pessoas brigam por um mesmo pedaço de terra, é uma terra para dois grupos de pessoas, ou seja, a terra em questão é um bem escasso. Quando existem 20 pedaços de carne para 400 pessoas, a carne é um bem escasso, se fossem os mesmos 20 pedaços de carne para 2 pessoas, cada uma teria 10 pedaços, ou seja, com menos pessoas em jogo, o bem não é escasso, e sim abundante. E com abundância de bens materiais, não há disputa. Esta é, em linhas gerais, a base de toda a economia.
Como cada um é um, nem todo mundo tem os mesmos interesses, nem as mesmas ideias sobre o que fazer com os bens escassos. E dos interesses diferentes sobre bens escassos, quase automaticamente, pode surgir mais um elemento essencial da política: o conflito. O conflito começa quando cada um pode achar que suas ideias são melhores do que as ideias dos outros. Mais do que isso, o conflito existe quando o interesse de um condiciona ou está condicionado ao comportamento do outro. Por exemplo, se existe pouca água, mas muitas pessoas ao redor do poço, e eu quero beber, o meu interesse exige que os outros não bebam. Mas cada pessoa ao redor do poço quer beber e não quer que outro beba. Ai começa a confusão…
Os elementos que surgem da convivência, que é o elemento inicial, são então, primeiramente, os assuntos em comum, seguidos pelos interesses diferentes acerca de bens escassos. Os interesses e ideias sobre o que fazer com os bens escassos, quando são defendidos perante as outras pessoas, podem gerar conflito.
Assim, temos até agora uma cadeia de cinco elementos: convivência, assuntos em comum, bens escassos, interesses e ideias diferentes e conflito. Vamos observar o desdobramento desses aspectos: (1) Convivência (muitas pessoas partilhando o mesmo espaço); (2) Gera assuntos em comum; (3) Entre várias pessoas com interesses e ideias diferentes; (4) Sobre o que fazer com os bens escassos; (5) E podem entrar em conflito.
Neste cenário, resta saber como as pessoas decidem sobre os assuntos que atingem a todos. As soluções para os conflitos são os elementos finais da política, mas antes de chegarmos a elas, é importante perceber que uma situação de conflito pode ter dois rumos diferentes: ou as pessoas se destroem (fazendo guerra) ou elas chegam a um acordo (fazendo política). Se as pessoas resolvem destruírem umas as outras, partindo para a violência física, brigando, chutando e até matando, não existe política, existe guerra. Mas se elas resolvem o assunto sem se aniquilar, e sim negociando, elas fazem política.
Temos então duas situações possíveis:
Situação 1
(1) Coletividade de pessoas partilhando o mesmo espaço (convivência); (2) Com assuntos em comum; (3) Mas com interesses e ideias diferentes; (4) Sobre o mesmo bem escasso; (5) Que podem entrar em conflito; (6) E resolvem se destruir, fazendo guerra
Situação 2
(1) Coletividade de pessoas partilhando o mesmo espaço (convivência); (2) Com assuntos em comum; (3) Mas com interesses e ideias diferentes; (4) Sobre um mesmo bem escasso; (5) Que podem entrar em conflito; (6) Mas resolvem fazer debates, discursos e negociações; (7) Onde surge um sentimento de identidade de grupo ao redor dos mesmos interesses; (8) E se destacam lideranças; (9) E as pessoas envolvidas chegam a uma decisão que será coletivizada.
Os elementos finais da política são, portanto, as formas de solução dos conflitos sem uso de violência: o debate, a identidade que permite a formação de um grupo, o reconhecimento das lideranças e as decisões.
Até a próxima.